Um artista deixa de ser um simples pintor quando não precisa mais aplicar rigorosamente as regras e respeitar religiosamente as tradições. Lairana adquiriu tal familiaridade com sua arte, que pode transformá-la num projeto vivo de deslocamento das fronteiras do seu mundo, gerando novas regras e novos sentidos.

Lairana é uma artista nascida em Bauru, mas que conseguiu ser – ao mesmo tempo – representante de uma cultura local e construir uma obra cosmopolita; fazer-se compreender por seus vizinhos e por habitantes de países longínquos. Lairana é uma intelectual, é uma doutora em artes pela prestigiada Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, mas suas impressões – transformadas em milhares de obras – fazem dela aquilo que os antropólogos chamam de “observadora participante”. Sua carreira de sucesso a fez dezenas de vezes premiada em salões oficiais e levou seus quadros a lugares tão distantes e surpreendentes como o Japão e República Sul-Africana (além de praticamente todos os países da América e da Europa Ocidental). O sucesso se renova, neste ano de 2006, conduzindo sua obra para os seletos endereços do Forte de São Francisco, em Portugal, e da Galeria Artitude, na capital francesa. No Brasil, Lairana, com suas pinturas, ocupou nada menos do que seis ambientes do Casa-Cor Interior, na cidade de Araraquara (SP).

Conheço muito da obra de Lairana. Admiro tudo o que conheço. Mas o que me arrebata são suas papoulas: quando pintadas em óleo sobre tela, são transparentes e multicoloridas; quando produzidas em acrílico, multiplicam texturas; e se lairana usa a espátula, o quadro acaba capturando não só o movimento da papoula, mas também a gestualidade da artista. Ao usar a espátula, Lairana valsa com suas criações.

As papoulas de Lairana (como de resto, toda a sua obra) não ficarão “datadas”, pois não se filiam a um determinado movimento artístico. A artista tem sensibilidade e competência para captar informações e adaptar estilos a seu trabalho, sem constrangê-lo a quaisquer estruturas. As papoulas não se macularam porque a autora não buscou as facilidades de filiação a alguma escola artística ou nova tendência. A eternidade é o prêmio de quem não se corrompe.

                        Ney Vilela – Historiador e Jornalista